CLEOdomira Soares dos Santos (Cascavel – Pr -Brazil)
A exposição, aberta ao público, ocorrerá até o dia 19 de julho, das 13h às 18h30, na Câmara de Vereadores de Camboriú.
A Câmara dos Vereadores de Camboriú está promovendo uma exposição inovadora intitulada “Arte pra cego ver”.
A mostra, que teve início no dia 4 de julho, terça-feira, apresenta uma coleção de sete quadros em 3D com a temática “Lendas do Folclore Brasileiro”.
O objetivo é proporcionar uma experiência sensorial única, permitindo que pessoas com e sem deficiência visual possam sentir as linhas, texturas e relevos das obras.
A exposição, aberta ao público, ocorrerá até o dia 19 de julho, das 13h às 18h30, na Câmara de Vereadores de Camboriú. Para garantir a acessibilidade efetiva, o processo de criação das obras contou com a participação de pessoas cegas desde o início, a equipe realizou visitas à Associação dos Deficientes Visuais de Itajaí e Região (Advir) e envolveu crianças, adolescentes e adultos em protótipos e testes para avaliar a percepção tátil e sensorial do público-alvo.
Os quadros foram confeccionados pela artista Karin Buba, de Itajaí-SC, e representam lendas brasileiras das cinco regiões do país.
Além disso, escolas da rede municipal de ensino têm a oportunidade de agendar visitas à exposição, com o objetivo de estimular a vivência tátil e aumentar o respeito pelas pessoas com deficiência visual.
A exposição “Arte pra cego ver” foi criada em 2022 por meio de um projeto de pesquisa de acessibilidade nas artes visuais, aprovado pela Lei de Incentivo à Cultura Municipal.
A iniciativa contou com o apoio da Advir e foi realizada pela ACM Produções.
Em entrevista ao Jornal Linha Popular, a produtora cultural Ana Clara Marques, responsável pela exposição, e a artista Karin Buba compartilharam mais detalhes sobre o projeto.
“Levei o questionamento para a Karin. “Karin como a sua arte pode chegar até as pessoas com deficiência visual? Como fazer quadros que os cegos compreendam com o toque?” Ela me respondeu eu não sei, mas a gente pode pesquisar juntas.”, comenta a produtora.
Quanto à parte da estruturação acadêmica do projeto, Ana Clara completa:
“Precisávamos descobrir como é o processo de percepção tátil da pessoa cega ou com baixa visão. Pesquisamos o que já havia sido feito sobre acessibilidade em artes visuais. O próximo passo foi testar as teorias que encontramos. Fomos até a ADVIR (associação dos deficientes visuais de Itajaí e região). Eles aceitaram receber a experimentação.”
Além disso, a produtora conta como foi feita a pesquisa:
“A Karin criou protótipos com vários elementos (formas, relevos, textura, cores fortes, distribuição espacial) Entrevistamos 3 grupos (crianças, adolescentes e adultos).
Com um questionário íamos anotando tudo o que eles falavam que estavam percebendo. Então entendemos como acontece o processo de leitura tátil.
Os principais elementos são o CONTORNO, a TEXTURA e o RELEVO.
Descobrimos que eles entendem por contexto, por exemplo, quando identificam uma animal marinho já dizem que o quadro é uma representação do mar.
Os adultos usam as memórias do tempo em que enxergavam para dar sentido ao quadro. A partir disso a Karin criou as obras.
Escolhemos o tema de lendas brasileiras para retratar histórias que misturam a realidade e a fantasia. E também porque a exposição poderia ajudar o estudo do folclore nas escolas.”
O Linha Popular também realizou conversou com a artista Karin Buba e as respostas você confere na entrevista abaixo, a última pergunta é de emocionar:
Como surgiu a ideia de criar uma exposição de arte voltada para pessoas com deficiência visual?
Karin: “Ana Clara e eu queríamos desenvolver algo diferente, inovador, que fosse acessível, foi aí que surgiu a ideia de fazer um projeto de pesquisa de acessibilidade nas artes visuais para pessoas com deficiência visual. O projeto começou em 2022, envolveu pesquisa bibliográfica, exploratória, a criação de protótipos, os quais foram submetidos à experimentação por deficientes visuais, e a exposição ARTE PRA CEGO VER é o resultado desse trabalho.”
Qual foi o processo criativo por trás da seleção das figuras para compor a exposição?
Karin: “Como artista, queria representar algo que envolvesse a cultura popular brasileira, e ao mesmo tempo, pudesse ser educativo, contextualizado por uma história, uma narrativa, que mexesse com o imaginário das pessoas, e não encontrei nada melhor que representar lendas do folclore brasileiro das cinco regiões do país, algumas mais conhecidas, outras nem tanto.”
Quais materiais e técnicas você utilizou para criar os quadros em alto relevo?
Karin: “Para dar sustentação nos quadros, foi utilizado tecido de algodão próprio para tela, aplicado sobre uma base de MDF. Já a criação dos elementos visuais, boa parte deles foi desenvolvido a partir de uma composição de papelão, isopor, massa de biscuit, tinta e verniz, além de outros recursos, como tecidos, cabelo sintético, folhas artificiais, cuidando ao máximo para não usar materiais que pudessem agredir a sensibilidade tátil.”
Como você espera que a exposição “Arte Pra Cego Ver” contribua para a visibilidade e inclusão das pessoas com deficiência visual na sociedade?
Karin: “A ideia dessa exposição é atrair público com e sem deficiência. As pessoas cegas ou com baixa visão descobrem um mundo novo. É lindo de ver o encantamento deles.
As pessoas que enxergam nos convidamos a tocar os quadros de olhos fechados ou usando uma venda para passarem pela experiência do que é viver sem os olhos.
Esperamos que isso desperte a empatia e respeito das pessoas que enxergam, em relação aos que não tem a visão.”
Quais são as principais mensagens ou narrativas que você busca transmitir por meio das obras expostas?
Karin: “Queremos mostrar que o deficiente visual não tem a visão, mas ele tem todos os demais sentidos juntos para auxiliá-lo a compreender o mundo.
Quando se tira a visão por alguns minutos, de uma pessoa que enxerga, ela não consegue usar os demais sentidos com a mesma potência que o deficiente visual. Queremos mostrar que todos têm potência e que é necessário dar condições para que os potenciais de todos se expressem.”
Como tem sido a resposta do público, especialmente das pessoas com deficiência visual, em relação à exposição?
Karin: “As pessoas cegas ou com baixa visão descobrem um mundo novo.
É lindo de ver o encantamento deles. Tocam os quadros com muita gentileza, para eles é algo precioso.”
Quais são seus planos futuros para expandir o alcance e o impacto da exposição “ARTE PRA CEGO VER”?
Karin: “Nossos planos são levar esta exposição para as escolas públicas de Itajaí, para entidade de autistas, centros de cultura. E depois para outras cidades em todo Brasil.”
Como o projeto impacta a vida de crianças?
Karin: “Vou te responder com a fala de uma criança que tem apenas 2% de visão. Ela disse “Eu gosto de arte. Eu também quero ser artista. Eu quero ter uma galeria pra mostrar muita arte!”
Ou seja, ela percebeu que ela tem direito a se expressar artisticamente e foi bastante ousada, já consegue se ver como artista bem sucedida que ajuda outras artistas.
Essa exposição abre um mundo de possibilidades para as crianças. E também discute valores humanos, como respeito, solidariedade, empatia.”
Visite a exposição
Não deixe passar essa oportunidade de ampliar seus horizontes e se sensibilizar para a importância da acessibilidade e da valorização das diferenças. A exposição “Arte pra cego ver” é uma porta de entrada para um mundo de arte e inclusão.
Venha e traga sua família, amigos e colegas! A exposição está aberta ao público na Câmara dos Vereadores de Camboriú, das 13h às 18h30, até o dia 19 de julho. Não perca essa chance de se surpreender e se emocionar com a arte acessível.
Edição: CLEOdomira Soares dos Santos
Fonte: Jornal Linha Popular Camboriu/Internet
Lembre-se: a arte é para todos, independentemente de suas habilidades visuais. Abrace essa oportunidade única de ver e sentir a arte com as mãos.