A inclusão social das pessoas com deficiência no mundo

CLEOdomira Soares dos Santos (Cascavel Pr Brazil)

A partir da segunda metade do século XX, com a crescente promoção dos direitos humanos, o mundo se deparou com desafios e necessidades para efetivar o respeito à dignidade e à igualdade de todos.

Uma dessas necessidades é a total inclusão social das pessoas com deficiência (PcD).

Mesmo correspondendo a quase 15% da população global, seus impedimentos de natureza física, mental, intelectual ou sensorial foram (e continuam sendo) motivos para a marginalização, exclusão e discriminação social.

Diante disso, diversas políticas e medidas legislativas e jurídicas foram construídas no mundo a fim de eliminar a exclusão social dessas pessoas e garantir os seus direitos.

Neste texto do Equidade, vamos tentar entender justamente sobre esses esforços pela inclusão social das PcD ao redor do mundo.

O projeto Equidade é uma parceria entre o Politize!, o Instituto Mattos Filho e a Civicus, voltada a apresentar, de forma simples e didática, os Direitos Humanos e os principais temas que eles envolvem, desde os seus principais fundamentos e conceitos aos seus impactos em nossas vidas.

E então, preparado (a) para entender sobre a inclusão social das pessoas com deficiência no mundo? Segue com a gente!

Primeiramente, o que é inclusão social?

Antes de entendermos as ações tomadas para o fortalecimento dos direitos das pessoas com deficiência no mundo, é importante sabermos o que exatamente significa a inclusão social.

A inclusão social pode ser entendida como ações e medidas que buscam pela participação ativa de todos nos mais diversos âmbitos da sociedade.

Dessa forma, o sentimento de pertencimento é desenvolvido e há a integração de todos dentro de uma comunidade.

Isso significa que o ato de incluir socialmente tem o objetivo de possibilitar que as pessoas marginalizadas e excluídas, como as pessoas com deficiência, tenham acesso à vida social, econômica e política e desfrutem dos seus direitos.

Segundo o pesquisador Romeu Sassaki, a inclusão social:

“constitui, então, um processo bilateral (que tem dois lados), no qual as pessoas, ainda excluídas, e a sociedade buscam, em parceria, equacionar problemas, decidir sobre soluções e efetivar a equiparação de oportunidades para todos”.

Nesse sentido, após a promulgação da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), a inclusão social ganhou força como um meio para se alcançar a igualdade e o bem-estar de todos. Como consequência, medidas que buscavam pela proteção das pessoas com deficiência começaram a ser intensificadas no mundo.

Isso ocorreu principalmente após a década de 1970, que, como vimos em nosso texto sobre a história dos direitos das pessoas com deficiência, é quando o entendimento social da deficiência surge e começa a ganhar relevância no cenário internacional.

Assim, novas legislações internacionais são formuladas, com base na compreensão de que a deficiência deve ser tratada como um problema social, e não individual, em que a sociedade deve se adequar e construir mecanismos de inclusão total dessas pessoas.

Vamos ver melhor algumas dessas legislações.

Os direitos das pessoas com deficiência no mundo

Entendido o que a inclusão social significa, podemos falar sobre as ações, principalmente jurídicas, tomadas ao redor do mundo para efetivá-la.

A preocupação com as pessoas com deficiência é pauta da Organização das Nações Unidas (ONU) desde a década de 50.

Um exemplo foi a aprovação pela Organização Internacional do Trabalho da Convenção nº 111, em 1958, dispondo sobre a eliminação de qualquer discriminação em matéria de emprego para todo e qualquer ser humano.

Assim, na década de 70 houve o reconhecimento efetivo dos direitos das pessoas com deficiência, com a publicação da Declaração dos Direitos das Pessoas com Deficiência Mental, em 1971, e da Declaração dos Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência, em 1975.

Mas, são os documentos internacionais elaborados a partir da década de 1990 que incorporam a noção contemporânea de inclusão, comentada anteriormente. Uma das primeiras normas nesse sentido foi a Convenção nº 159 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Ela foi elaborada em 1991 na Conferência Geral da OIT, tendo como objetivo estabelecer regulamentos para a inclusão das pessoas com deficiência no ambiente de trabalho no mundo.

Imagem de uma pessoa com deficiência trabalhando representando a inclusão social das pessoas com deficiência no mundo

Dessa forma, a Convenção determinou o princípio da igualdade de oportunidades e tratamento para as PcD no mercado de trabalho, de modo a possibilitar a reabilitação profissional e o emprego dessas pessoas.

Anos mais tarde, em 1994, foi realizada a Conferência Mundial de Educação Especial, na cidade de Salamanca, na Espanha.

O evento teve como resultado a Declaração de Salamanca, considerada um dos principais documentos mundiais sobre a inclusão social das PcD na área da educação.

O documento defende que os sistemas educacionais das nações devem ser aptos para contemplar e incluir todos os estudantes, independente de suas diferenças ou dificuldades.

Assim, a Declaração de Salamanca prevê algumas medidas, como investimento em educação inclusiva, garantia de treinamentos para professores, estabelecimento de mecanismos de inclusão educacionais e apoio internacional para desenvolver a educação inclusiva.

Já em 1999, foi elaborada a Convenção da Guatemala, no âmbito da Organização dos Estados Americanos (OEA), também chamada de Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência.

Nesse sentido, o documento é válido somente para os Estados membros da OEA no continente americano.

A Convenção reafirma os direitos humanos e os princípios fundamentais de liberdade e igualdade da pessoa com deficiência, determinando que os países signatários, como o Brasil, tomem medidas que eliminem qualquer discriminação e promovam a integração plena dessas pessoas na sociedade.

Assim, o documento também estabeleceu a criação da Comissão para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência, responsável por analisar o comprometimento dos Estados membros com os direitos garantidos na Convenção.

Além desses documentos, há outras importantes declarações internacionais voltadas à inclusão social das pessoas com deficiência no mundo:

Carta para o Terceiro Milênio (1999): Enfatiza que é preciso a cooperação de toda a humanidade para que o respeito à dignidade de todos seja garantido.

Estabelecendo como meta para o terceiro milênio, que a sociedade global alcance a inclusão total das pessoas com deficiência, otimizando o seu bem estar físico, mental e funcional.

Declaração de Washington (1999): Demonstra preocupação em desenvolver um ambiente adequado para que as pessoas com deficiência tenham uma vida independente.

Declaração Internacional de Montreal sobre Inclusão (2001): Nasce com o objetivo de que soluções para o estilo de vida das pessoas com deficiência sejam implementadas, enfatizando a importância do papel dos governos em aplicar políticas e ações inclusivas.

Declaração de Madrid (2002): Principal documento da União Europeia no âmbito dos direitos das pessoas com deficiência.

Os princípios da igualdade,não-discriminação e inclusão são reafirmados e são estipuladas aspectos essenciais para efetivar esses princípio, como a elaboração de legislações anti-discriminatórias, a promoção de serviços que promovam a vida independente, o apoio às famílias, a atenção especial às mulheres com deficiência, entre outros.

Declaração de Caracas (2002): Com o objetivo de garantir melhores condições de vida para as PcD, diferente das declarações anteriores, trouxe uma abordagem socioeconômica ao tema, considerando que a maior parcela das pessoas com deficiência se encontra nos estratos mais pobres e carecem de recursos mínimos para terem uma boa qualidade de vida.

Declaração de Sapporo (2002): Convocou pessoas com deficiência do mundo todo, representando 109 países, para discutirem e realizarem considerações em relação aos seus direitos.

Os principais pontos abordados pelo documento foram a paz, a necessidade de que as PcD tenham suas vozes notadas, os direitos humanos, a educação, a diversidade, a vida independente, entre outros.

A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência

Mas dentre todos os documentos internacionais, o mais relevante tratado internacional de direitos humanos voltado para a proteção das pessoas com deficiência no mundo é a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, elaborada em 2006, pela ONU.

Esse documento fortaleceu os princípios e valores dos direitos humanos e inovou ao trazer uma nova definição para a deficiência, com base na sua compreensão social de inclusão, sendo o primeiro documento internacional a utilizar o termo “pessoa com deficiência”.

Além disso, todos os direitos fundamentais às pessoas com deficiência ficam reconhecidos em pé de igualdade com as pessoas sem nenhuma deficiência, sendo que é determinada a obrigação dos Estados membros da ONU em garantir os direitos e liberdades estabelecidos no documento.

Nesse sentido, a Convenção aborda sobre a importância da acessibilidade e da inclusão, trazendo em seus artigos dispositivos relacionados ao direito à vida, à conscientização, ao reconhecimento igual perante a lei, ao acesso à justiça, à segurança, à proteção da integridade da PcD, à vida independente, à privacidade, à educação, à saúde, ao trabalho, à proteção social, à participação na vida cultural, entre outros.

De maneira geral, o documento ampliou os direitos das pessoas com deficiência em nível internacional e determinou a necessidade de se construir um ambiente global que promova o desenvolvimento social, econômico e individual das PcD.

Assim, a Convenção também determinou a criação de um Comitê sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, responsável por supervisionar a implementação da Convenção pelos países signatários.
As legislações internacionais na prática

Você pode estar se perguntando se os direitos garantidos nas declarações e convenções internacionais são realmente aplicados na prática. Então, vamos ver um exemplo real em que isso aconteceu.

O caso é o de Damião Ximenes, um homem com deficiência intelectual que ganhou notoriedade por ser o primeiro caso em que o Brasil foi condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) por violar os direitos da pessoa com deficiência intelectual.

No ano de 1999, no Ceará, Damião Ximenes morreu na Casa de Repouso Guararapes, uma clínica psiquiátrica do SUS. Segundo os médicos locais, a causa da morte foi parada cardiorrespiratória.

Contudo, horas antes a mãe de Damião foi visitá-lo e o encontrou em péssimas condições físicas e de higiene, estava sangrando, com a cabeça inchada, sujo e com cheiro de urina, em claros sinais de maus tratos.

Com isso, a família não acreditou no laudo médico, acionou a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará e, posteriormente, levou o caso à justiça internacional com ajuda da Organização Justiça Global, em vista da possibilidade de assassinato.

A Corte IDH concluiu que Damião foi morto em decorrência da violência que sofreu e considerou que o Estado brasileiro violou os seus direitos humanos. Assim, proferiu sentença prevendo o pagamento de indenização à família, bem como a implementação de políticas públicas na área da saúde mental por parte do governo brasileiro.

Além desse caso, no infográfico abaixo, é possível observar outros exemplos em que as normas internacionais dos direitos das pessoas com deficiência foram aplicadas:

Infográfico sobre a aplicação dos tratados internacionais de direitos das pessoas com deficiência, representando a sua inclusão social no mundo
Conclusão

A importância da inclusão social está justamente no combate à segregação social e na busca por proporcionar o livre e democrático acesso aos espaços e serviços de uma sociedade para toda e qualquer pessoa.

Mais uma vez, é importante ressaltar que a implementação da inclusão social das pessoas com deficiência implica em modificar os ambientes sociais para atender às necessidades dessas pessoas.

Isso porque a sua exclusão leva a processo de degradação individual e social, no qual os progressos e desenvolvimentos ficam impossibilitados, não só das PcD, mas da sociedade como um todo.

Os documentos internacionais existentes hoje surgiram justamente com a intenção de garantir que essa segregação não ocorra, exigindo dos países que trabalhem para a integração socioeconômica e política das pessoas com deficiência.

Nesse sentido, os direitos das pessoas com deficiência devem ser garantidos internamente nas nações a partir de legislações nacionais e políticas públicas que visem a proteção dessas pessoas.

No caso do Brasil, esses direitos são previstos em uma série de dispositivos legais e é sobre isso que vamos falar no nosso próximo texto, em que vamos abordar sobre quais os direitos das pessoas com deficiência no Brasil. Então, continue acompanhando o projeto!

EdiçãO: CLEOdomira Soares dos Santos
Fontes:1- Instituto Mattos Filho;

2- ALMEIDA, Valdir. Caso Damião: 1ª condenação do Brasil na OEA completa 10 anos. G1. Disponível em: . Acesso em: 23 de julho de 2021.

3- Associação Nacional do Ministério Público de Defesa dos Direitos dos Idosos e Pessoas com Deficiência. Convenções e Declarações da ONU sobre Pessoa com Deficiência, Disponível em: . Acesso em: 22 de julho de 2021.

4- DINIZ, Debora et al. Deficiência, Direitos Humanos e Justiça. Revista Internacional de Direitos Humanos, vol. 6, n. 11, p. 65-77, 2009.

5- GUERRA, Paulo. Da exclusão social à inclusão social: eixos de uma mudança paradigmática. Revista Angolana de Sociologia, 10, 2012. Disponível em: . Acesso em: 22 de julho de 2021.

6- MAZZOTA, Marcos. Inclusão social de pessoas com deficiências e necessidades especiais: cultura, educação, lazer. Saúde Soc. São Paulo, v. 20, nº 2, p. 377-389, 2011.

7- SASSAKI, Romeu K. Inclusão: Construindo uma sociedade para todos. WVA Editora e Distribuidora Ltda: Rio de Janeiro. 1999.
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O que fazer para reduzir o preconceito com deficientes?

CLEOdomira Soares dos Santos (Cascavel – Pr – Brazil)

Você percebe no dia a dia o preconceito com deficientes?

Estabelecimentos inadequados, transportes sem acessibilidade, calçadas em péssimas condições, falta de guias rebaixadas, barreiras em prédios públicos e comerciais. Esses são apenas alguns dos obstáculos que a pessoa com mobilidade reduzida precisa superar todos os dias.

Mesmo que temas como igualdade e acessibilidade sejam apoiados por lei, vivemos em uma sociedade apegada a padrões e estereótipos, o que dificulta a inclusão de pessoas com deficiências.

A ignorância e a falta de conhecimento são os principais fatores para o preconceito.

Nesse contexto, como minimizar o preconceito com deficientes? Quais atitudes contribuem para uma sociedade mais igualitária? Continue a leitura e confira!

Como a falta de acessibilidade aumenta o preconceito com deficientes?

Todos os dias pessoas com mobilidade reduzida precisam enfrentar diversos obstáculos para conviver em sociedade. Isso mostra o quanto as cidades não estão preparadas para atender às demandas dessas pessoas.

Uma ação simples como usar o transporte público, em muitos casos, é um desafio para quem usa cadeira de rodas — altura dos degraus, ausência de espaços reservados e, até mesmo, a falta de paciência e respeito por parte das pessoas e motoristas.

Além da falta de acessibilidade física, como rampas e elevadores, a ausência de uma cultura mais inclusiva (barreiras atitudinais) aumenta o preconceito com deficientes, colocando-os em situações de constrangimento.

A desorganização das cidades intensifica o preconceito, e este não colabora para eventuais melhorias, além de atrapalhar a convivência social e profissional de pessoas com mobilidade reduzida.
Como reduzir o preconceito com deficientes?

Como vimos, a falta de acessibilidade e preparo das cidades são fatores que estimulam o preconceito com deficientes. Contudo, com as atitudes certas, é possível conscientizar as pessoas a respeito da realidade de quem tem mobilidade reduzida.

Para isso, primeiramente, é primordial o apoio mútuo, mais empatia e respeito pelo próximo. Veja algumas ações para reduzir a discriminação na sociedade.
Campanhas de conscientização

Tanto a sociedade quanto as empresas estão mais conscientes a respeito da acessibilidade de pessoas com deficiências físicas. Isso se deve especialmente às garantias legais e também pelas movimentações sociais que lutam por mais direitos e igualdade.

Mesmo assim, o preconceito com deficientes ainda se faz presente e dificulta a acessibilidade. Nesse ponto, a conscientização das pessoas sobre a inclusão é fundamental.

Para eliminar ideias preconceituosas é preciso conscientização, sejam em campanhas sociais ou em grupos de amigos, afinal atitudes inclusivas devem ser realizadas por todos, independentemente de onde se esteja.

Ações individuais e coletivas

O respeito e a empatia são as principais atitudes para criar uma sociedade mais igualitária. Falar sobre as diferenças é o principal caminho para diminuir a distância entre a sociedade e as pessoas que têm mobilidade reduzida. Nesse quesito entram as ações individuais e coletivas.

Se as pessoas agirem ao verem um ato de preconceito com deficientes, a falta de acessibilidade nos ambientes e buscarem mais informações sobre esse tema, atitudes preconceituosas serão reduzidas na sociedade.

Um bom exemplo disso é questionar com a prefeitura das cidades o porquê da falta de rampas de acesso nas calçadas, lutar por acessibilidade nas escolas e faculdades e incentivar a contratação de mais pessoas com deficiências, respeitando suas competências e os direitos.
Apoio a grupos já estabelecidos

Apoiar grupos e projetos sociais é uma forma de contribuir para diminuir o preconceito com deficientes. Esses projetos e movimentos buscam a inclusão dessas pessoas na sociedade e no mercado de trabalho, além de lutar pelos seus direitos.

Grupos como o Instituto Novo Ser, AACD e APAE são apenas alguns exemplos de organizações que precisam do apoio da sociedade. Busque em sua cidade quais são os projetos sociais ativos e ofereça o seu apoio. Sua participação é fundamental para a diminuição do preconceito e visibilidade desses grupos.

A luta por uma sociedade mais igualitária e sem preconceito com deficientes é um dever de todos.

Incluir é uma ação consciente que começa quando as pessoas identificam e compreendem a discriminação e preconceito.

Por isso, a conscientização é o principal caminho para uma sociedade mais inclusiva e justa.

Edição: CLEOdomira Soares dos Santos
Fonte: loja ortopédica/Internet

Inclusão depende de todos nós

Gilson de Souza DANIEL (Cascavel – Pr – Brazil)

O modelo social de direitos humanos conceitua que a pessoa com deficiência depende fundamentalmente do meio em que essa pessoa está inserida. Basicamente funciona assim…

O ambiente tem absoluta influência nas liberdades da pessoa com deficiência, que muitas vezes enfrentam evoluções negativas frente a sua condição por conta do meio o qual faz parte e, não especificamente em razão da deficiência em si, ou seja, a deficiência é o resultado da equação em que o valor final depende e muito de outras variáveis independentes.

Mas que variáveis?

Todo o tipo de barreiras como sociais, arquitetônicas, tecnológicas, físicas, econômicas, mobilidade urbana, além das próprias limitações funcionais do corpo humano.

Compreendendo esse cenário, foi instituída a Lei 13.146/2015 que institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (estatuto da pessoa com deficiência).

Em vigor desde 2016, a lei assegura a dignidade e a inclusão de aproximadamente 45 milhões de brasileiros com algum tipo de deficiência.

Esse “Estatuto da Pessoa com Deficiência” garante uma série de direitos relacionados à acessibilidade, educação e saúde, além de estabelecer punições para atitudes discriminatórias.

Fato é a que existência de barreiras dificultam nosso acesso integral aos “componentes” da sociedade. Entretanto, o cenário tem ganhado outra “cara”, pois o próprio deficiente tem adotado uma postura diferente, uma postura exigindo, conquistando, garantindo seus – nossos – direitos através da Lei 13.146/2015 que definiu penas para quem agir com discriminação em qualquer circunstância como negar emprego, recusar assistência médico-hospitalar, impedir ou dificultar o ingresso da pessoa com deficiência em planos privados de saúde, etc. Sobre esses direitos a nova legislação regulamenta outros como:

· As pessoas com deficiência de qualquer idade, com impedimentos de natureza física, mental, intelectual ou sensorial de longo prazo (que produza efeitos pelo prazo mínimo de 2 anos), têm direito ao Benefício da Prestação Continuada (BPC) no valor de um salário mínimo mensal.

· Legislações anteriores já previam a reserva de 2% das vagas dos estacionamentos públicos para pessoas com deficiência, mas atualmente a nova lei garante que haja, no mínimo, uma vaga em estacionamentos menores. Os locais devem estar devidamente sinalizados, e os veículos deverão conter a credencial de beneficiário fornecida pelos órgãos de trânsito.

· Empresas com 100 ou mais funcionários são obrigadas a preencher de 2% a 5% dos cargos com pessoas com deficiência. Já nos concursos públicos, há reserva de 5% das vagas.

· 10% dos dormitórios de hotéis e pousadas devem ser acessíveis e ao menos uma unidade acessível seja garantida.

· As habitações do programa Minha Casa Minha Vida também podem ser adaptadas para as necessidades das pessoas com deficiência.

· Empresas de táxi deverão reservar 10% das vagas para condutores com deficiência.

Para garantir a concretização destes e de outros direitos é preciso reconhecer nossa identidade provendo os recursos necessários que possibilitem nossa plena e efetiva participaçãona sociedade, em igualdade de condições com as demais pessoas. Assim, a sociedade é corresponsável pela inclusão das pessoas com deficiência.

É importantíssimo lembrar que o “simples” fato de ser uma pessoa com deficiência não impede a PESSOA em nada, nada, nada… podemos e devemos ter acesso a universidades, mercado de trabalho, cinemas, clubes, teatros… podemos ser pais, amantes, enfim nós podemos “poder”.

Edição: Gilson de Souza DANIEL
Fonte: Mão na roda/Intenet

Medos que pessoas com deficiência têm em relação à sexualidade.

Gilson de Souza DANIEL (Cascavel – Pr – Brazil)

A sexualidade faz parte da vida de qualquer ser humano, tenha ele uma deficiência ou não. Porém, graças ao capacitismo, este é um assunto muitas vezes desconfortável para aqueles que possuem uma deficiência.

Medos que pessoas com deficiência têm em relação à sexualidade.

Insegurança com o próprio corpo, super proteção familiar e a baixa autoestima são alguns dos motivos pelos quais essas pessoas sentem medo de se relacionar.

Perguntas como “e se eu não for atraente o suficiente?”,

“E se ele(a) não souber lidar com as minhas limitações?” Ou até mesmo “Como eu poderia marcar um encontro se estou sempre cercada(a) de pessoas?

São indagações que podem surgir com frequência na cabeça dos PCD’s fazendo com que pensem e repensem na hora de se relacionar com alguém e, quando o fazem, alguns optam por pessoas do mesmo ciclo social por se sentirem mais confortáveis.

A liberdade sexual ou amorosa de uma pessoa não deve ser restrita para pessoas sem deficiência, pois todo mundo merece e pode ser amado de todas as formas e da forma que é, todavia, na prática, quem vive a realidade de ser uma pessoa com deficiência sabe que não é bem assim que a banda toca.

Embora a sociedade cultive a ideia do “relacionamento íntimo por prazer”, assim como muitos, nós, PCD’s, também queremos ser amados e acreditamos que o relacionamento íntimo vai muito além do encontro carnal, é algo que deve transbordar amor, confiança e companheirismo.

No entanto, graças a temas como os que já foram citados, por vezes achamos não sermos dignos de experimentar esse sentimento e acabamos fugindo quando oportunidades surgem.

Lembrar que somos atraentes, que merecemos, podemos e devemos possuir liberdade sobre nossos corpos e sentimentos é um exercício que precisa ser realizado diariamente.

Tendo em vista que todos possuirmos alguma limitação, mas a cultura capacitista nos traz a necessidade de recordar não ser a toa que palavra “pessoa” vem antes da deficiência.

O preconceito deve ser um problema do outro, não nosso!

Edição: Gilson de Souza DANIEL
Fonte: Territorio Deficiente/Internet