Gilson de Souza DANIEL (Cascavel Pr Brazil)
Existem poucos PCDs em busca de emprego
Mito.
Segundo dados do IBGE ― o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ―, pelo menos 45 milhões de brasileiros, ou seja, 20% da população do país tem algum tipo de deficiência.
Certamente, nem todos podem ou querem trabalhar, mas a ideia errada é a de que há poucos PCDs no mercado de trabalho porque essas pessoas preferem receber o benefício do governo a encontrar um emprego.
De fato, encontrar PCDs com os requisitos desejados para preencher uma vaga pode não ser fácil. Há, inclusive, empresas que se apoiam nesta justificativa para explicar por que não foram capazes de respeitar a regra de proporcionalidade da Lei de Cotas.
O que você precisa saber é que, se isso realmente acontecer, sua empresa precisa ser capaz de provar que tentou buscar PCDs, mas não conseguiu encontrar alguém para a vaga em aberto.
Isso porque existem sim pessoas com deficiência que querem e precisam trabalhar. Segundo dados do governo, atualmente 4,6 milhões de pessoas recebem o Benefício de Prestação Continuada (BPC).
É fundamental ressaltar que o BPC não se destina apenas às pessoas com deficiência, mas também a idosos. Com isso, a proporção de PCDs que, de fato, precisa ou prefere o benefício ao trabalho é pequena.
Vale saber, o benefício pago pelo governo tem o valor de um salário mínimo. Além de ser baixo, envolve um processo bastante burocrático que contribui para motivar quem pode a buscar um emprego.
PCDs não têm qualificação para o mercado
Parcialmente verdade.
Dados de uma pesquisa realizada pela iSocial e compartilhada pela Catho indicam que, em uma média de 45 mil pessoas com deficiência, “pelo menos 36% possuem nível superior e 42% tê segundo grau completo”.
Com isso, é possível dizer que “não há diferenças de padrões entre pessoas com deficiência e o restante da população”. A Lei de Cotas para Pessoas com Deficiência é, inclusive, um fator que tem contribuído para a presença de PCDs em cursos de qualificação e formação profissional.
No passado, porém, essa abertura era dificultada e, por isso, pode sim ocorrer de o RH se deparar com PCDs com baixa qualificação ou qualificação inadequada. Isso, porém, não é regra.
A contratação de PCDs custa caro para a empresa
Parcialmente verdade.
Não é a contratação de PCDs em si que custa mais à empresa. A questão que costuma motivar a resistência de gestores a essa contratação são os investimentos em acessibilidade que se fazem necessários.
Diante disso, convém considerar a diferença entre custo e investimento. Aquilo que custa pode ser entendido como algo que onera, ou seja, que apenas causa despesa ao caixa da empresa. Por sua vez, aquilo que pode ser visto como um investimento pressupõe algum retorno.
Já apresentamos alguns benefícios atrelados à contratação de PCDs e eles podem embasar a compreensão de que fazer mudanças e aquisições em nome da acessibilidade é investir.
Se a empresa incluir a inclusão de PCDs em sua cultura, os investimentos voltados a esse propósito vão passar a fazer parte de sua estratégia. Com isso, até mesmo métricas para avaliar os retornos podem ser adequadas para comprovar os benefícios capazes de fazer o “custo” valer a pena.
Contratar PCDs pode impactar a produtividade
Verdade.
A contratação de pessoas com deficiência pode mesmo impactar a produtividade dos colegas e da empresa como um todo, mas não necessariamente de forma negativa.
PCDs não são incapazes e essa é uma ideia que precisa ser mudada. Uma vez que estejam em um ambiente acessível e inclusivo, estejam motivados e recebam o mesmo tipo de tratamento dispensado aos demais, esses profissionais vão ter produtividade elevada.
Por mesmo tipo de tratamento, falamos de feedbacks construtivos e positivos, boas remunerações, plano de carreira e tudo o que faz parte da política da empresa para atrair e reter talentos.
PCDs não podem ser cobrados como os demais
Mito.
A já mencionada ideia de que pessoas com deficiência são incapazes leva alguns a crer que elas não podem ser cobradas como os demais. Esse tipo de pensamento desfavorece a presença de PCDs no mercado de trabalho e precisa ser revisto.
Afora suas limitações que demandam adaptações físicas e tecnológicas na empresa, pessoas com deficiência devem ser tratadas como qualquer outro funcionário da empresa.
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O importante é entender que o desempenho cobrado deve ser adequado à realidade do profissional. Com isso, é válido dizer também que se um funcionário se sai bem e a empresa tem políticas de bonificação, este deve ser incluído e contemplado pelo bom trabalho.
O relacionamento com PCDs é difícil
Mito.
O que pode fazer o relacionamento com pessoas com deficiência difícil é a postura dos colegas de trabalho e da própria empresa.
É claro que, como qualquer pessoa, uma PCD pode ter um temperamento difícil e dificultar a convivência no ambiente profissional. Isso, porém, não é exclusivo de quem tem alguma deficiência, não é mesmo?
Convém dizer ainda que PCDs no mercado de trabalho costumam ser conhecidos por sua boa postura e comportamento. Quando a empresa é inclusiva, as qualidades desses profissionais no que diz respeito a relacionamento ― além da produtividade ― tendem a ser ressaltadas.
Com isso, o relacionamento com PCDs não só pode ser tranquilo como pode contribuir para inspirar os demais funcionários da empresa.
PCDs não podem ser demitidos
Mito.
A contratação de PCDs pode, como já mencionamos, ser pautada por contratos de trabalho flexíveis. Com isso, é fundamental que o RH esteja atento à eventuais particularidades ao conferir o devido cumprimento de regras, seja por parte da empresa ou do funcionário.
Para além disso, é importante saber que pessoas com deficiência estão sujeitas à demissão tal qual as demais.
Baixa produtividade e outras questões que motivam uma demissão sem justa causa podem ser motivo de dispensa. Da mesma forma, comportamentos que levem à uma demissão por justa causa também podem ser considerados pela empresa.
A contratação de PCDs impacta a employer branding
Verdade.
Se você ainda não conhece o conceito de employer branding, falamos sobre “o conjunto de estratégias que visa melhorar a visão que os funcionários têm de uma empresa. Algo que favorece a atração e retenção de talentos, além de outros benefícios”.
A employer brand, ou seja, a marca empregadora se traduz em como a empresa é vista pelo seu público interno. Algo que, inclusive, pode afetar a visão do mercado e até do público externo.
Assim, além de estratégias específicas, tudo o que a empresa faz e que impacta seus funcionários pode alterar a employer branding de forma positiva ou negativa.
O esforço de uma empresa para fazer mais do que atender a uma lei e se tornar verdadeiramente inclusiva tende a ser visto com bons olhos. Isso porque é fácil para os funcionários levarem em consideração os investimentos em acessibilidade e os receberem como sinal positivo.
As medidas podem ser interpretadas como sinal de a empresa realmente se preocupa com o bem-estar de qualquer trabalho e com sua responsabilidade na inclusão social de deficientes.
A contratação de PCDs pode criar oportunidades para a empresa
Verdade.
Atualmente, Sheryl Sandberg é COO, ou executiva-chefe do Facebook. Antes de trabalhar na empresa de Mark Zuckerberg, ela passou pela Google, outra gigante do mercado.
Em 2004, ocupando um cargo de reconhecida relevância na empresa, Sheryl engravidou e começou a enfrentar dificuldades comuns às mulheres no período de gestação. Os pés inchados e o peso do bebê em sua barriga a faziam ter de se esforçar bem mais para se locomover do carro à sua sala no prédio da empresa.
Diante dessa nova realidade, ela fez um simples pedido pela criação de uma vaga especial mais próxima à entrada do prédio e foi atendida. Ninguém antes havia pensando em fazer algo assim na Google porque faltava à empresa a visão de uma mulher grávida para entender e apontar essa necessidade.
Sheryl conta esse episódio em seu livro, Faça Acontecer (2013). Aqui, o relato nos serve para mostrar como uma presença diferente pode expandir a visão da empresa.
Como mencionamos antes, a contratação de PCDs vai levar à adoção medidas de acessibilidade que podem acabar atendendo até mesmo parte do público que ainda não se relacionava com a empresa.
Da mesma forma, contar com a visão e a contribuição de pessoas com deficiência é algo que pode orientar novos posicionamentos por parte da empresa.
Medidas inovadoras ou que simplesmente aumentem o prestígio da marca podem ser tomadas em consequência disso. Em suma, novas oportunidades podem ser criadas.
Edição:Gilson de Souza DANIEL
Fonte:Tangerino/Internet