Quando a matemática leva a deficiência para outro mundo

Gilson de Souza DANIEL (Cascavel Pr Brazil)

Usando comunicação não verbal, com apoio de amigos, família e escola inclusiva, Gabi, 12, foi convidado para disputar mundial na Tailândia

Nem os pais do Gabi sabem ao certo como ele é capaz de fazer tantos cálculos mentais, uma vez que não pega no papel e no lápis, muito menos manuseia calculadoras para sustentar suas contas.

Pouco importa, ele acaba de se tornar, ao lado de três colegas de escola, campeão nacional de matemática, com o requinte de ser convidado para a etapa mundial da competição, na Tailândia.

O que é clarividente na realidade do garoto de 12 anos, que não usa a comunicação verbal e tem os movimentos de todo o corpo comprometidos pela paralisia cerebral, é o impacto das amizades e da escola inclusiva para seus resultados.

Três crianças jogam folhas secas de uma árvore, como se fosse uma chuva, sobre um garoto que está em uma cadeira de rodas

Certa vez, em uma prova, Gabi se negou a apontar o resultado de uma conta para a professora –ele tem botões de sim e não acoplados na cadeira de rodas. Intrigada, ela percebeu, depois, que a recusa era porque nenhuma alternativa oferecida era a correta.

Ninguém é obrigado a ler mentes, é óbvio, mas é do nosso tempo passar a entender formas múltiplas de interação com o mundo, ter disposição e ser receptivo a elas.

O que me comove mais na história não é o batido “exemplo de superação” e blablablá.

É a humanidade se movimentando para que as diferenças não fiquem para trás.

Gabi tem amigos de sala que dão a ele suporte, tem professora que o assiste nas tarefas de classe, tem ônibus acessível para ir nos passeios com a turma, tem todo o amor familiar e, mais do que tudo, é visto em sua completude, a sua maneira.

A turma do Gabi criou até uma “parede de escalada”, no chão da quadra, para que ele pudesse brincar e jogar igual a todos os outros. As diferenças vão sempre reagir positivamente diante da simplicidade de poderem se manifestar, serem vistas.
A família ainda não sabe como irá levar o garoto para o outro lado do planeta, onde a prova terá de ser realizada individualmente –também ainda não há clareza se ele terá a acessibilidade que precisa, suporte tecnológico.

Há muita coisa a se pensar, a enfrentar, a estudar, a preparar e a saber se dará certo. Ainda não é tão simples embarcar um pré-adolescente com tantas demandas num avião rumo a Bancoc.

O que já está consolidado é o efeito que o campeonato causou no garoto e na comunidade que habita: sorrisos ininterruptos, sensação de realização, de alegria e de caminho escancarado para a formação de pessoas melhores.

Outra coisa também é certa nesta história, a verdade do desabafo emocionado da professora que deu a notícia da conquista à família: “Eu sempre disse que o mundo ainda iria ouvir falar muito do Gabriel. Eu tenho o maior orgulho dele. Ele está numa alegria sem fim. A matemática levará ele para muito longe ainda.”

Por todos os cantos há pequenos clamando por entendimento, olhares menos estigmatizados e oportunidades para chegarem onde todos queremos estar, nos lugares onde gritam nossas emoções, vontades, habilidades e amores. Que o Gabriel e seus amigos sigam jogando luz em soluções.

Edição: Gilson de Souza DANIEL
Fonte: Folha de São Paulo

A Inclusão de Crianças com Deficiência no Ensino Fundamental no Brasil: Desafios e Perspectivas para uma Educação Plenamente Inclusiva

CLEOdomira Soares dos Santos (Cascavel Pr Brazil)

A inclusão de crianças com deficiência no ensino fundamental tem sido um tema de extrema importância e relevância nas últimas décadas.

Neste artigo, exploramos a situação da inclusão no contexto brasileiro, analisando os desafios enfrentados, as políticas e legislações implementadas, bem como as medidas adotadas para garantir uma educação inclusiva de qualidade.

Além disso, destacamos os benefícios da inclusão para as crianças com deficiência, suas famílias e a sociedade como um todo.

Introdução: A inclusão de crianças com deficiência no ensino fundamental é um princípio fundamentado na igualdade de oportunidades e no respeito à diversidade.

No Brasil, a Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996 estabelecem o direito de todos à educação, sem discriminação. No entanto, a realidade da inclusão no país ainda apresenta desafios significativos.

Desafios e Barreiras: Diversos desafios e barreiras dificultam a implementação efetiva da inclusão no ensino fundamental no Brasil.

Alguns desses desafios incluem a falta de infraestrutura adequada, a ausência de formação específica para os profissionais da educação, a resistência por parte de alguns educadores e a falta de recursos financeiros e materiais. Além disso, a desinformação e os estigmas sociais relacionados às deficiências também contribuem para a exclusão das crianças com deficiência nas escolas regulares.

Políticas e Legislações: Para promover a inclusão no ensino fundamental, o Brasil adotou uma série de políticas e legislações. Destaca-se a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, que reforça a importância da educação inclusiva e propõe a eliminação progressiva das classes especiais em escolas especiais.

Além disso, a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015) estabelece diretrizes para a inclusão de pessoas com deficiência em todos os aspectos da sociedade, incluindo a educação.

Medidas para a Inclusão: Diversas medidas têm sido adotadas para promover a inclusão de crianças com deficiência no ensino fundamental.

A formação continuada de professores tem sido ampliada, visando capacitar os educadores para atender às necessidades específicas desses alunos. Além disso, adaptações curriculares e o fornecimento de recursos de apoio, como materiais didáticos adaptados e tecnologias assistivas, têm sido implementados para garantir a participação plena e igualitária de todos os alunos.

Benefícios da Inclusão: A inclusão de crianças com deficiência no ensino fundamental traz benefícios significativos para todos os envolvidos.

Para as crianças com deficiência, a inclusão promove o desenvolvimento de habilidades sociais, emocionais e cognitivas, além de proporcionar uma maior integração com os seus pares.

Para as famílias, a inclusão representa uma oportunidade de participação ativa na vida escolar de seus filhos. Já para a sociedade, a inclusão contribui para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Considerações Finais: Embora o Brasil tenha avançado na busca pela inclusão de crianças com deficiência no ensino fundamental, ainda existem desafios a serem superados.

É fundamental continuar investindo em políticas educacionais inclusivas, oferecer suporte adequado aos educadores e promover a conscientização sobre a importância da inclusão.

Somente através de um esforço conjunto da sociedade, governo e instituições educacionais será possível garantir uma educação fundamental inclusiva e de qualidade para todas as crianças, independentemente de suas habilidades e necessidades.

Edição:CLEOdomira Soares dos Santos
Fonte: Escolada Acessibilidade/Internet

Psicomotricidade e inclusão escolar: estratégias para promover a socialização de crianças atípicas.

CLEOdomira Soares dos Santos (Cascavel Pr Brazil)

A educação inclusiva é um processo possível quando desenvolvido de forma correta, e por isso a psicomotricidade e a inclusão se complementam.

Quando falamos de psicomotricidade, estamos falando de uma ciência que trabalha não só o desenvolvimento motor, mas afetivo, cognitivo e social do indivíduo.

Se você quer saber mais sobre como a psicomotricidade pode ser utilizada como uma estratégia para a inclusão escolar das crianças, continue lendo este texto.

Inclusão escolar: O que realmente é?

A inclusão escolar é um processo que visa garantir a igualdade de oportunidades educacionais para todas as crianças, independentemente de suas condições físicas, sociais ou cognitivas.

Portanto, diferentemente das crianças típicas, as crianças atípicas possuem necessidades que precisam ser atendidas para que essa inclusão aconteça.

Inclusão escolar e Psicomotricidade: Como se complementam?

A psicomotricidade é uma importante aliada da inclusão escolar, pois ajuda a desenvolver habilidades motoras, emocionais e sociais das crianças, possibilitando sua integração na escola e na sociedade.

Assim sendo, é através das atividades psicomotoras, que as crianças podem desenvolver sua autoconfiança, criatividade, cooperação e senso de responsabilidade.

Por exemplo, você pode trabalhar a psicomotricidade através de atividades sensoriais, motoras, de equilíbrio, de agilidade, de lateralidade, memória e percepção espaço-temporal, e consequentemente atuar diretamente nas áreas emocionais, psicológicas, intelectuais e sociais de cada criança.

Além disso, a psicomotricidade pode ajudar a identificar precocemente possíveis dificuldades ou desafios que as crianças possam enfrentar.
Estratégias de Psicomotricidade que você pode implementar:

Com o propósito de permitir que os professores e os profissionais de saúde possam intervir de forma eficaz e proporcionar o suporte necessário para o desenvolvimento das crianças, a psicomotricidade é muito importante para promover a socialização delas.

Existem algumas estratégias que podem ser usadas pelos professores para incluir essas crianças na sala de aula:

Atividades em grupo que estimulem o movimento do corpo, como jogos cooperativos e brincadeiras de roda.

Isso ajuda as crianças a se conectarem e a desenvolverem habilidades sociais importantes.

Materiais que estimulem a criatividade e a interação entre os alunos, como massinha de modelar e quebra-cabeças.

Isso ajuda as crianças a trabalharem juntas, desenvolverem habilidades e se divertirem enquanto aprendem.

Adaptações de atividades conforme as necessidades de cada aluno, como o uso de materiais adaptados e a criação de atividades que permitam diferentes níveis de participação.

Serve para garantir que todas as crianças possam participar e se sentir incluídas.

Treinamento para os professores sobre inclusão e psicomotricidade, para poderem estar preparados para lidar com as necessidades de cada criança e ajudá-las a se desenvolverem da melhor forma possível.

Em suma, com essas estratégias de psicomotricidade e inclusão, é possível promover a socialização de crianças atípicas e garantir que elas se sintam acolhidas e valorizadas dentro da escola.

Visto que isso é essencial para o desenvolvimento cognitivo e emocional dessas crianças e para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.

Edição:CLEOdomira Soares dos Santos
Fonte:Referências:Campelo, Felipe Mike Dantas. A estimulação psicomotora como fator de inclusão e socialização de escolares com o transtorno do espectro autista. 2018. Disponível em: https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/44118 . Acesso em 12/04/2023
BRAGANÇA, Elaine de Lima. A Psicomotricidade como instrumento de inclusão. Revista Educação Pública, v. 21, nº 28, 27 de julho de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/28/a-psicomotricidade-como-instrumento-de-inclusao. Acesso em: 12/04/2023

Como promover a inclusão de estudantes com deficiência no ensino superior?

CLEOdomira Soares dos Santos (Cascavel Pr Brazil)

O que dizem as legislações sobre acesso ao ensino para pessoas com deficiência? Como garantir que a IES seja inclusiva?

Quais ferramentas podem auxiliar nessa tarefa? Confira neste artigo!

A inclusão de estudantes com deficiência no ensino superior: fotografia com foco na mão de uma pessoa ensinando Libras para outras três pessoas.

Um dos desafios da educação na atualidade é garantir a inclusão de estudantes com deficiência no ensino superior.

Afinal, a Constituição Federal de 1988 estabelece a educação como um direito de todos, garantindo o pleno desenvolvimento da pessoa, o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho e a igualdade de condições de acesso e permanência na escola. Para tal, uma série de mecanismos legais foram criados, ao longo dos anos, para melhor atender às demandas educacionais das pessoas com deficiência.

Sendo assim, as instituições de educação superior (IES) realizam, em consonância às mudanças na legislação, uma série de atualizações para se manterem ajustadas aos padrões de ensino para as pessoas com deficiência (PcDs). A partir delas, caminham para o oferecimento pleno de uma educação inclusiva.

Vamos conferir, neste post, algumas referências e dicas sobre a inclusão de estudantes com deficiência no ensino superior.

Também falaremos sobre o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, e como celebrá-lo nas IES. Boa leitura!

Um bilhão de chances de fazer diferente

Por muitos anos estigmatizadas, as pessoas com deficiência são uma grande parcela da população mundial, chegando a 15%. Logo, o acesso a ambientes variados, como os de educação superior, deve ser uma garantia, para que essa população tenha acesso mais amplo ao mercado de trabalho.

São mais de um bilhão de pessoas que esperam que um padrão de normalidade, baseado nas pessoas sem deficiência, possa ser revisto. São um bilhão de chances de trabalhar a inclusão, muito além da tolerância nas instituições de ensino.

O que é inclusão da pessoa com deficiência na educação superior?

Um primeiro ponto a se considerar é quais as dinâmicas envolvidas na titulação de pessoas como “normais”.

Todos nós possuímos diferentes formas de manifestar nossas dificuldades e talentos, o que, por muitas vezes, se encaixa nos padrões das instituições de ensino e do mercado de trabalho.

A inclusão da pessoa com deficiência no ensino superior passa pela ideia de que é possível promover um ambiente saudável, para que elas possam desenvolver suas habilidades, assim como manifestar suas dificuldades, como qualquer outro aluno.

Qual o papel das IES na inclusão de PCDs?

De acordo com o Censo Superior da Educação de 2018, apesar de o número de PCDs nas universidades ter crescido 70%, a partir da reserva de vagas, são apenas 0,52% do total de alunos que fazem parte de alguma instituição de ensino superior.

As IES são uma porta para a qualificação das pessoas com deficiência, possibilitando, dessa forma, que estejam mais preparadas para assumir funções diversas no mercado de trabalho.

Além disso, as instituições podem atuar como um ambiente de convívio saudável quando promovem a inclusão de estudantes com deficiência no ensino superior e trabalham pela não estigmatização das PCDs.

A inclusão na legislação brasileira

É importante saber que a inclusão de estudantes com deficiência no ensino superior não é apenas um esforço extra das IES em acolher alunos com perfis diversos. A educação é um direito fundamental e, no caso das pessoas com deficiência, assegurado por uma série de leis e normas.

O principal regimento em relação a isso é o Estatuto da Pessoa com Deficiência. Por ser uma legislação relativamente recente, outras leis e resoluções normativas foram publicadas ao longo dos anos para dar garantias às pessoas com deficiência a respeito de sua relação com o ensino superior. Acompanhe os principais destaques:

Decreto nº 3.298, 20 de DEZEMBRO de 1999

Parte da Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, que discorre sobre a Política Nacional para integração da pessoa com deficiência, o decreto nº 3.298 traz pontos importantes para se considerar, como a necessidade de adequação da construção e reforma de estabelecimentos de ensino às normas técnicas da ABNT.

Além disso, delimita que o Ministério da Educação deve dar instruções para que conteúdos, itens ou disciplinas relacionadas às pessoas com deficiência sejam incorporados pelos programas de educação superior. Nele, há garantia para as PCDs terem suas atividades e avaliações adaptadas à sua necessidade, incluindo tempo adicional para entrega de trabalhos.

Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva

A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva foi instituída em 2008 pelo Ministério da Educação, e tem como intenção acompanhar os avanços da luta das pessoas com deficiência por ensino de qualidade.

Os pontos que chamam a atenção nesse texto são a responsabilidade das IES em promover formação docente voltada para a diversidade e especificidades dos estudantes com deficiência, além da implantação de recursos pedagógicos e arquitetônicos que contemplem as necessidades desse público.
Plano Nacional de Educação (PNE)

O Plano Nacional de Educação (PNE) foi estabelecido pelo Ministério da Educação (MEC) por meio da Lei n° 13.005 de 2014. A meta defende que o ensino das pessoas com deficiência seja orientado pelo uso de tecnologias assistivas, que visam maior integração do segmento na vida escolar, o que tornaria o uso destas nas IES uma continuidade nas boas práticas do ensino escolar.

Além disso, a mesma meta estimula a formação docente com direcionamento para políticas de inclusão, o que corresponde aos interesses das instituições de ensino superior em manter em seu quadro funcional profissionais que consigam aplicar fundamentos da acessibilidade em suas aulas.

Estatuto da Pessoa com Deficiência

A Lei 13.146, de 6 de julho de 2015, conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, assegura e promove os direitos e liberdades fundamentais das pessoas com deficiência.

A partir dela, é possível definir quais cidadãos se enquadram como PcD. O Estatuto ainda estabelece uma série de medidas para promover a inclusão nas diversas esferas da sociedade

Os pontos de atenção para as IES

O Estatuto traça algumas barreiras existentes, como urbanísticas, arquitetônicas, nos transportes, nas comunicações, atitudinais e tecnológicas, que podem ser impeditivos para que o processo de integração das pessoas com deficiência seja eficaz.

Além disso, há uma série de indicações importantes para ambientes de atendimento ao público, como o direito ao atendimento prioritário, a disponibilização de pontos de parada, acesso à informação a partir de recursos acessíveis, entre outros.

A educação como direito básico

O direito ao acesso das PCDs ao ensino é estendido a todos os níveis de aprendizado, inclusive o superior. De acordo com artigo 28 do Estatuto da Pessoa com Deficiência, é obrigação de todas instituições de ensino que algumas regras sejam seguidas.

Entre elas, estão, por exemplo, o aprimoramento dos sistemas educacionais, a adoção de medidas, individuais ou coletivas, para maximizar o desenvolvimento acadêmico e social dos estudantes com deficiência, a adoção de práticas pedagógicas inclusivas na formação de professores, entre outros.
O processo seletivo

Os processos seletivos das IES devem seguir as diretrizes do Estatuto. Ainda no processo de inscrição, é estabelecido que haja atendimento preferencial à pessoa com deficiência nas dependências das instituições de educação superior. É preciso que seja feita a tradução completa do edital e de suas retificações em Libras.

O formulário de inscrição de exames deve ter campos específicos para que o candidato com deficiência informe os recursos de acessibilidade e de tecnologia assistiva que irá precisar.

Caso necessário, o candidato pode solicitar dilação de tempo, conforme demanda individual.

Na correção das provas, é preciso que sejam adotados critérios de avaliação que considerem a singularidade linguística da pessoa com deficiência.

Os critérios do MEC para inclusão de estudantes com deficiência no ensino superior

Como cabe ao poder público assegurar que as políticas de acessibilidade sejam cumpridas, o Ministério da Educação realiza o credenciamento, recredenciamento, autorização, reconhecimento e renovação de cursos superiores. A Portaria nº 3.284/2003 estabelece requisitos mínimos relacionados a edificações, espaço, mobiliário e equipamentos urbanos, baseados nas normas da ABNT.

Além disso, determina que recursos de acessibilidade, para deficientes visuais e auditivos, devem estar disponíveis até que o aluno conclua o curso.

A norma ainda indica que haja flexibilidade na correção das provas escritas, valorizando o conteúdo semântico, além de estimular o aprendizado da língua portuguesa.

Para realizar a validação da IES, o MEC realiza, conforme o decreto nº 5.773/2003 e da Portaria Normativa MEC nº40/2007, três etapas de avaliação:

a Análise de Admissibilidade, que é um exame da documentação, a Avaliação in loco, feita pelo INEP, e o parecer final do órgão.

O uso de tecnologias assistivas

Com o crescimento do ensino superior a distância, principalmente em decorrência da pandemia, muitas tecnologias foram incorporadas no dia a dia de milhares de alunos. Mas o uso de tecnologia para alunos com deficiência já é uma realidade anterior ao covid-19.

Utilizadas para promover habilidades funcionais em pessoas com deficiência, as tecnologias assistivas são incorporadas ao ensino superior para potencializar a experiência de ensino para esse segmento.

Vamos conhecer algumas delas?

O teclado virtual é uma ferramenta que pode auxiliar pessoas com mobilidade reduzida a partir da seleção das teclas com uma caneta específica para telas, para escrever textos acadêmicos, e até mesmo se comunicar com os colegas e professores, caso haja dificuldade na fala;

O DOSVOX é um sistema operacional que torna computadores comuns acessíveis para pessoas cegas e com baixa visão. Ele promove independência no trabalho e nos estudos e utiliza a síntese de voz para realizar a leitura dos conteúdos dispostos na tela;

Alguns softwares fazem tradução do português para a nossa segunda língua oficial, a Libras (língua brasileira de sinais).

Entre eles estão o Pro Deaf e o Handtalk. O primeiro funciona como um tradutor regular, o que pode auxiliar na comunicação em sala de aula, mas também na interação com os colegas;

O HandTalk oferece um plugin para tornar sites acessíveis para pessoas surdas. Isso pode ajudar as IES a se tornarem ainda mais envolvidas com as pautas de inclusão, ao oferecer informações em Libras em seus portais, por exemplo;

Headmouse é um software gratuito que atua como um mouse virtual, feito para auxiliar pessoas com problemas de mobilidade. Para utilizá-lo o usuário deve ter apenas uma WebCam USB, e pode controlar a função de mouse com o movimento da cabeça;

Soluções simples podem surgir a partir do uso de aparelhos eletrônicos, como um aplicativo de mensagens ou até mesmo um bloco de notas;

A disponibilização de computadores com recursos de acessibilidade pode auxiliar em uma pesquisa na biblioteca, por exemplo.

A preparação dos docentes

Para que as instituições de ensino superior estejam aptas para promover um ambiente de aprendizado acessível, é necessário que os educadores sejam incluídos no processo de delimitação das ações de apoio às PCDs. Mas para que isso ocorra, é imprescindível que a coordenação esteja disposta a dar suporte a esses profissionais.

O primeiro passo é ter uma formação docente que contemple políticas e metodologias de inclusão. A aposta na formação continuada desses profissionais é um passo essencial para o desenvolvimento de um projeto pedagógico inclusivo, que seja executado da forma planejada.

A instrução docente adequada permite que os educadores tenham a capacidade de flexibilizar o currículo de acordo com as necessidades individuais dos alunos com deficiência.

Ir além da sala de aula

Percebeu que durante todo o texto nós utilizamos o termo pessoa com deficiência, ou PCD? O primeiro passo para estabelecer políticas de inclusão é utilizar a denominação mais respeitosa, empregada pelos movimentos que lutam pelas causas de inclusão.

É dever de toda a sociedade assegurar uma educação a salvo de descriminação para os alunos com deficiência, que tal trabalhar essa temática além das estruturas dos prédios e programas de ensino?

Crie espaços para a promoção de diálogos sobre inclusão. Incentive que toda a comunidade acadêmica possa ouvir e debater sobre as dificuldades e potencialidades por trás da diversidade.

É possível estimular a criação de ações de pertencimento, que conectem e celebrem as diferenças entre os alunos.
Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência

Em 21 de setembro, celebra-se o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência. A data foi instituída pela Lei nº 11.133, de 2005.

Este dia tem como objetivo celebrar a luta anticapacitista, e conscientizar a população sobre a importância de desenvolver políticas de inclusão das pessoas com deficiência na sociedade.

Afinal, uma das principais barreiras que as PcDs enfrentam é o preconceito e a discriminação. Isso impede que elas tenham acesso pleno a uma série de recursos, como trabalho, educação e lazer.

Desse modo, esta data é essencial para enfatizar a importância da criação de políticas voltadas à inclusão desta parcela da população.

Como celebrar a data nas IES?

As instituições de educação superior podem promover eventos e atividades, a fim de comemorar o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência. Isso é essencial para aumentar o pertencimento das PcDs, além de ter uma relevante função educativa.

Na lista abaixo, confira algumas atividades que as faculdades podem executar:

Realize palestras;
Promova debates;
Incentive a participação das PcDs nas políticas da universidade.

Entenda em detalhes:
1. Realize palestras

A IES pode realizar palestras, tendo como assunto central a inclusão das pessoas com deficiência. Desse modo, a partir da exposição de especialistas e estudiosos do tema, pode oferecer a seus alunos um panorama da situação atual do Brasil, e quais são as principais lacunas e desafios em termos de políticas públicas.

Isso é importante para educar seu público a respeito do assunto. Além de estudantes, professores e funcionários devem ser incentivados a participar. Os alunos podem ser motivados a pensar em soluções e também a se engajar na luta anticapacitista.
2. Promova debates

Em seguida, a universidade pode realizar debates e rodas de conversa sobre o tema. É essencial que as pessoas com deficiência tenham protagonismo, podendo compartilhar suas experiências e dificuldades.

Com isso, a IES consegue criar um senso de comunidade. É possível entender quais são as barreiras enfrentadas pelas PcDs, o seu ponto de vista, e o que pode ser feito para contribuir em sua luta.

Assim, a faculdade se torna uma agente, participando ativamente da luta contra o preconceito e a favor da inclusão.

3. Incentive a participação das PcDs nas políticas da universidade

Por fim, é necessário que a IES tenha políticas efetivas de acessibilidade e inclusão. Isto é, esta discussão não pode ficar restrita às datas comemorativas. A universidade deve estar constantemente pensando em como combater os obstáculos enfrentados pelas PcDs, produzindo mudanças em sua infraestrutura educacional.

Uma boa maneira de estabelecer boas políticas é ouvindo as pessoas com deficiência. Ou seja, incentivando a participação delas em fóruns e reuniões institucionais, que podem ser realizados no dia 21 de setembro, por exemplo. O quadro da IES deve ser diverso, e as PcDs devem ter espaço para propor ações e também dar seu feedback.

Agora que você já tem um bom panorama sobre a inclusão de estudantes com deficiência no ensino superior, que tal conferir este artigo com 12 dicas de melhoria da experiência do aluno?

Edição: CLEOdomira Soares dos Santos
Fonte: Saraiva Educação
Saraiva Educação

A importância da inclusão social nas escolas

CLEOdomira Soares dos Santos (Cascavel – Pr – Brazil)

Falar sobre inclusão social nas escolas é essencial. Isso vale tanto no ambiente de ensino, quanto em outros âmbitos da vida.

Além de ajudar no desenvolvimento de uma pessoa com deficiência, também torna os estudantes, pais e professores mais conscientes.

O objetivo de difundir esse debate escolar é permitir que estudantes com algum tipo de necessidade, seja física ou intelectual, frequentem o mesmo espaço que todos os estudantes.

Vale dizer que, antigamente, as escolas não admitiam a inserção de crianças com deficiência. Nesse caso, pediam que os responsáveis buscassem um local especializado.

Hoje, com o avanço das leis de inclusão e das práticas pedagógicas, após diversos fóruns para discussão, isso mudou. Esses estudantes começaram a ser aceitos nas instituições convencionais.

Logo, passam a ter as mesmas oportunidades de aprendizado que todos os estudantes.

Se você quer um aprofundamento sobre esse tema, basta continuar a leitura.

A importância da inclusão social nas escolas

Foto de uma mulher loira sentada no chão com uma garota com Síndrome de Down, as duas brincam com peças de madeira em formato de animais.

A educação é um direito de todos, por isso é importante que as escolas estejam preparadas para acolher estudantes com necessidades especiais.

A inclusão nas escolas não é apenas uma ideologia, mas um direito civil.

No artigo 26º da Declaração Universal dos Direitos Humanos está que “toda pessoa tem direito à educação”.

Dessa forma, buscar essa condição igualitária é um papel fundamental para o desenvolvimento psicoemocional dos estudantes com necessidades especiais.

Além disso, a legislação, LDBEN 9394/96, propõe que toda criança possa socializar, ampliar sua inteligência emocional e desenvolver suas capacidades por meio da inclusão social nas escolas.

Então, esse acesso à escola não promove apenas o desenvolvimento pessoal, mas é uma ferramenta poderosa no aprimoramento dos relacionamentos interpessoais.

Afinal, nas instituições de ensino, o jovem tem contato com realidades e pessoas diversas, indo além da própria família.

Com isso, a inclusão traz benefícios não apenas para os estudantes com necessidades especiais, mas para todos os discentes que convivem com ele.

Assim, o grupo aprende na prática a respeitar as diferenças – um fator fundamental para conviver em sociedade.
Melhorias na estrutura nas escolas

Além do crescimento pessoal de cada estudante, a própria escola começa a ser um ambiente mais plural.

Por isso, é preciso incentivar a inclusão de espaços acessíveis, como elevadores, rampas e banheiros adaptados. Além de um material de apoio que explore os outros sentidos, por exemplo, atividades manuais ou exercícios em áudio.

Fora isso, os gestores, docentes e demais colaboradores também devem estar prontos para dar todo o suporte na recepção desse estudante.

Com isso, entra a questão de uma qualificação específica para a equipe escolar, para que tenham formação adequada no ensino de estudantes PcD.

Entretanto, é importante lembrar que esse estudante também deve receber as recomendações no cotidiano escolar.

Todas essas mudanças são gradativas e não se espera que uma escola sem essa estrutura mude de uma hora para outra. No entanto, levantar esse tema já é o primeiro passo para ter um ambiente que acolha a todos os estudantes, seja qual for sua necessidade.

Incentivo para o desenvolvimento da autonomia

Foto de um garoto com paralisia cerebral na escola, sentado e sorrindo brincando com um objeto educativo de madeira.

A inclusão social na escola ajuda no desenvolvimento da criança com necessidades especiais, o que leva a uma possível maior autonomia para ela no dia a dia.

Toda essa mudança estrutural para trazer inclusão reflete não apenas na oferta dos conteúdos programáticos. Na verdade, a profundidade de um ambiente inclusivo está na oportunidade de autonomia desses discentes.

Fora isso, um estudante que conviveu com um colega que tenha alguma dificuldade, percebe o quanto é importante o acesso para todos na sociedade.

A simples presença do estudante PcD em sala de aula é uma lição de cidadania e de responsabilidade social.

Ainda é uma forma de mostrar para o estudante com deficiência o direito da igualdade, portanto, sentir mais autonomia é crucial para a autoestima fortalecida desse jovem. Logo, apesar dos obstáculos, ele percebe que pode estudar e ter um ótimo desenvolvimento em todas as áreas.

Os temas de diversidade e respeito são fundamentais na construção de cidadãos que entendem a democracia.

Portanto, melhoram sua inteligência emocional com competências como empatia, colaboração e paciência.

A inclusão, em si, é uma medida educativa que ensina a toda a comunidade.
Acompanhamento escolar

A instituição de ensino deve acompanhar a saúde de seus estudantes de perto.

Para isso, pode começar solicitando aos responsáveis um documento que comprove a situação da criança a partir de um laudo em detalhes.

Com essas informações técnicas é possível realizar um planejamento escolar para ter um ambiente acolhedor para esses estudantes.

Ainda é recomendável manter o contato com os médicos, enfermeiros e profissionais da saúde que atendem o estudante.

Isso é ainda mais relevante quando for um caso novo e que a equipe pedagógica ainda não entenda. Dessa forma, o objetivo é unir forças e o entendimento de todos os envolvidos para trazer ótimos resultados e ofertar uma verdadeira comunidade de apoio.

O apoio pedagógico para a criança

Para o auxílio de estudantes com necessidades específicas, é importante contar com o Atendimento Educacional Especializado (AEE) com a utilização da sala de recursos ou sala de apoio pedagógico.

Sendo assim, tanto a escola deve estar preparada com materiais e estrutura de acesso, quanto seus professores e coordenadores devem ter treinamento adequado, além de ferramentas didáticas aperfeiçoadas.

O estudante PcD continuará frequentando as aulas normalmente, mas pode contar com esse espaço para reforço de seu aprendizado. Nesse local, é interessante ter materiais de suporte e professores capacitados para o desenvolvimento dessas crianças e jovens.

Outro ponto benéfico para todo o corpo de estudantes é a presença de um psicólogo escolar. Vale destacar que esse profissional não substitui um psicólogo clínico, mas oferece suporte dentro do contexto de ensino-aprendizagem.

Educação contra o bullying

A foto de uma sala de aula, com estudantes e professora em volta de uma mesa e há um garoto em uma cadeira de rodas, representando a inclusão social na escola.

A inclusão social na escola traz para a realidade dos estudantes mais diversidade, o que ajuda no preparo para o convívio com as diferenças.

Não se pode falar em ambiente escolar saudável e não tocar na questão do bullying – essa realidade não deve ser ignorada.

Com isso, é preciso entender que muitas crianças não contam com um preparo para conviver com as diferenças e podem ferir emocionalmente seus colegas.

Até mesmo um comentário feito em tom de brincadeira tem o poder de trazer grande impacto para quem recebe.

Por isso, a educação realmente inclusiva, não apenas permite que o estudante com deficiência frequente a sala de aula regular, como também prepara todos os estudantes para receber e respeitar a criança.

Isso pode ser feito com atividades em classe, semanas especiais, campeonatos internos ou práticas que ajudem a ver a diferença como algo valioso que constrói a individualidade e singularidade.

Quanto mais esse tema é apresentado para a classe, maiores são as chances de evitar que casos de agressões emocionais ocorram na escola. Esse trabalho não é imediato e é uma prática diária, mas que deve ser mantida.

Presença ativa dos pais

Ainda que seja um desafio, também é recomendado envolver os pais na temática da inclusão social nas escolas.

Afinal, o preconceito pode ser reproduzido por gerações e o trabalho em todas as esferas ajuda a cortar as raízes do bullying.

Os responsáveis das crianças, independente de sua condição, também devem estar próximos ao ambiente escolar.

A relação familiar precisa ser informada aos educadores para entender o contexto que essa criança leva para a sala de aula.

Assim, é interessante até mesmo relatar desafios e pequenas conquistas para os pais. Esses assuntos podem parecer triviais sem um olhar cuidadoso, mas são de total importância na vida do estudante PcD e de sua família.

A equipe pedagógica pode avaliar ainda se a comunicação com esses responsáveis deve ocorrer com mais frequência. Ou seja, não apenas durante a reunião escolar de rotina.

O mais importante é ofertar as melhores condições para receber e manter essas crianças no ambiente escolar.

Concluindo, um fato é que todos ganham com a inclusão social nas escolas.

Como se trata de um aprendizado conjunto, todo o processo é enriquecedor para os estudantes, professores, funcionários e gestores.

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Edição: CLEOddomira Soares dos Santos
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Há longo caminho para inclusão de alunos neurodivergentes nas escolas, diz pedagoga

CLEOdomira Soares dos Santos (Cascavel – Pr – Brazil)

À CNN Rádio, Solange Aroeira afirmou que “não há respostas prontas” para a inclusão total de alunos no espectro autista
Kelly Sikkema na Unsplash-19/06/2023 às 09:02 | Atualizado 19/06/2023 às 11:57

O Brasil tem aproximadamente 2 milhões de pessoas no espectro autista e, no último 18 de junho, foi comemorado o dia do orgulho autista.

À CNN Rádio, no CNN Educação, a pedagoga e psicóloga Solange Aroeira afirmou haver um “longo caminho” a ser percorrido para a inclusão de alunos autistas nas escolas.

Ela explicou que essa inclusão é muito importante e traz vantagens para todos os estudantes.

“Trabalhamos desenvolvimento de habilidades sociais, estímulo à empatia e compreensão, além de preparação para a vida adulta”, disse.

Segundo a especialista, “estamos numa fase de entender o que de fato é uma inclusão e o que é lidar com a diversidade humana e neurológica.”

Ela destaca que “não temos respostas prontas para isso.”

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De qualquer forma, Solange vê muitos desafios, como na comunicação com os alunos autistas, que segue as particularidades de casa pessoa.

Ao mesmo tempo, a pedagoga acredita que se “deve ter olhar direcionado do que deve ser feito na escola.”

“Professores devem sair do papel de autoridade de sala e devem passar a ser facilitador dessas crianças”, disse.

Para isso, ela aponta a necessidade de colaborar com especialistas e buscar conhecimento, para “considerar que as adaptações têm de ser justas e acessíveis”.

Edição: CLEOdomira Soares dos Santos
Fonte: CNN*Com produção de Isabel Campos/Internet

Acessibilidade: a batalha dos estudantes com deficiência nas universidades

Gilson de Souza DANIEL (Cascavel – Pr – Brazil)

A conquista de uma vaga em uma universidade pública é um sonho para muitos jovens brasileiros.

Dominar o conteúdo exigido no vestibular, no entanto, pode não ser o principal desafio para que um aluno consiga ingressar em instituições de ensino superior. Segundo relatos de candidatos com deficiência, as dificuldades começam antes mesmo de chegar aos locais dos exames que, muitas vezes, não oferecem a acessibilidade necessária.

Outras barreiras podem estar embutidas nas próprias questões que os alunos devem resolver nas provas, como contou Maria das Graças Morais.

A jovem, que tentou o vestibular da Universidade de Brasília (UnB) cinco vezes, coleciona relatos de problemas.

“Em uma das provas, uma questão deveria ser feita com base na observação da figura de uma bicicleta.

Por incrível que pareça, na prova adaptada para o braille não havia a descrição da figura e na prova do ledor, que nos ajuda a saber o que está sendo pedido, também não havia a figura para que ele pudesse descrever o que estava vendo. Como eu poderia fazer aquela questão?”, questiona a jovem, que tem deficiência visual.

Dados do Censo da Educação Superior de 2010 apontam que em um universo de 6,3 milhões de estudantes matriculados em cursos de graduação, apenas 16.328 universitários são identificados como pessoas com deficiência.

Desse número, 10.470 estão na rede privada. O dado mostra a realidade sobre a dificuldade de ingresso e permanência dos estudantes com deficiência no ensino superior no Brasil.

Ronan Alves Pereira é pai de Tomás Pereira, estudante cego do 5º semestre do curso de letras e tradução em inglês da UnB.

Ele também acredita que o filho foi prejudicado por condições inadequadas nas provas da universidade. Em uma das vezes, o rapaz, que nasceu cego, fez o vestibular da instituição e foram identificados erros de grafia em enunciados e de transcrição para o braille.

“É uma situação muito grave encontrar uma cadeia química incompleta ou sinais trocados em equações matemáticas: no lugar do sinal de adição, o de subtração. O resultado nunca daria certo”, conta Ronan.

No entendimento de Tomás, há precariedade no atendimento ao aluno com deficiência. “O atendimento ao aluno e à família das pessoas com deficiência é extremamente precário.

Além disso, não há vontade política de tirar as barreiras. Os problemas são questionados, mas não temos solução.

Nas respostas, a universidade é omissa, discriminadora”, argumenta o estudante, que lamenta por muitos amigos com deficiência que não conseguiram entrar na universidade como ele.

“Identificamos várias divergências na prova, foram sucessivos recursos e uma longa jornada até conseguir entrar na faculdade. Há vários colegas que não têm oportunidade ou conhecimento dos recursos e ficam pelo caminho”, destaca.

Depois de algumas tentativas, Tomás conseguiu entrar na universidade. Para garantir a vaga, contou com a ajuda do pai que checou item a item da prova tradicional com a prova aplicada ao filho, em braille. As dificuldades, no entanto, não acabaram. Ele teve de enfrentar a falta de estrutura para a locomoção dentro do campus.

“Ir ao banheiro, por exemplo, é muito complicado, pois não há identificação nas portas. Outro problema é conseguir mesa para colocar o teclado de braille, que é grande e não cabe em uma mesa comum.

Nem todos os professores se dispõem a compartilhar a sua própria mesa comigo”, conta ele, que diariamente é obrigado a desviar de bebedores, cadeiras e outros obstáculos com auxílio de uma bengala. É ela que o ajuda a identificar, quando há piso tátil, o caminho para onde quer chegar.

MEC – O Ministério da Educação (MEC) mudou o formato do Programa Incluir, destinado a investimentos nas universidades públicas para melhorar a acessibilidade de pessoas com deficiência.

Até 2010, o recurso era colocado à disposição por meio de editais e as universidades participavam de uma seleção para receber os valores

. A partir deste ano, a pasta decidiu eliminar a seleção e definir já na proposta orçamentária o montante para cada universidade.

Com a mudança no programa, com o investimento direto nas instituições, o MEC espera melhorar as condições para o acesso e a permanência dos estudantes nos cursos de nível superior.

O último edital disputado pelas universidades foi em 2010 e sua vigência terminou em dezembro de 2011. O valor total previa a aplicação de R$ 5 milhões.

O MEC informou ainda que, em 2012, foram investidos em todas as universidades federais a quantia de R$ 3 milhões.

A previsão de investimento deve alcançar R$ 11 milhões em 2013, a serem aplicados em adequação arquitetônica para acessibilidade como rampas, barras de apoio, corrimão, piso e sinalização tátil.

Além das obras de adaptações, o MEC destacou que os recursos também poderão ser usados na aquisição de computador com interface de acessibilidade, impressora braille, lupa eletrônica e outros materiais didáticos e pedagógicos.

Para a diretora de desenvolvimento da Rede de Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes) do Ministério da Educação, Adriana Rigon Weska, a mudança significou um avanço nas condições enfrentadas pelos estudantes com deficiência. “O governo federal tem feito um esforço de eliminar barreiras físicas pedagógicas e permitir o acesso à informação. É um avanço”, disse.

De acordo com Adriana Weska, para atender a demanda pedagógica dos universitários com deficiência, a pasta vai criar o curso de letras – português/libras até 2014, em cada estado do País.

“Serão ofertados mais 12 cursos de pedagogia na perspectiva bilíngue pelo Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines) para formação inicial de professores e tradutores/intérpretes de libras”, disse.

O ministério prevê ainda abrir concurso até dezembro deste ano para contratação de 229 professores e 606 técnico-administrativos. A medida envolve as pastas do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, da Educação, da Saúde e da Secretaria de Direitos Humanos, com o Plano Viver sem Limites.

Burocracia – As dificuldades enfrentadas pelas pessoas com deficiência no acesso ao ensino superior e também durante os cursos oferecidos são reconhecidas pela Universidade de Brasília (UnB).

O coordenador do Programa de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais da universidade, José Roberto Vieira, aponta que há dificuldades provocadas principalmente pela burocracia pública.

“Queremos buscar a igualdade de condições na universidade. Sabemos que há casos de obras feitas de forma errônea, mas procuramos fazer as adaptações.

Infelizmente, esbarramos em burocracia pública, como todo prazo licitatório. Além disso, a UnB tem prédios tombados, o que retarda ainda mais o processo de obras. [A estrutura dos campi] está longe do ideal, mas a preocupação existe”, completou o coordenador.

Edição: Gilson de Souza DANIEL
Fonte: R7,com/Internet